por Marcia Cruz

A filósofa e escritora Márcia Tiburi constatou que ela, o jornalista Matheus Leitão e a escritora cubana Teresa Cárdenas constatou que eles têm obras com prosas distintas, também vêm de origem social e cultural diferentes. Essa diversidade, que é um dos eixos do Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – rendeu ao público uma bate-papo que passou por diversos temas, transitando de um discussão sobre a memória como fonte da escrita, passando por uma abordagem sobre o feminicídio e chegando às lembranças mais prosaicas do que fizeram no dia anterior à mesa. 

O bate-papo transitou pelo o que Márcia definiu como “o incomum”, permitindo aos autores partilharem o sensível, camadas da escrita nem sempre reveladas. Teresa iniciou a conversa dizendo o quanto se sente ambientada no Brasil, devido às semelhanças com seu país, Cuba. “Encontro meu país e minha gente em cada esquina, não me sinto estrangeira, me sinto carioca”, brincou.

O primeiro tema abordado foi como a memória está presente nas respectivas obras. Em “Cartas para a minha mãe”, primeiro livro que escreveu, Teresa aborda, de uma maneira intuitiva, questões que lhe eram caras. A escritora contrapõe as imagens de livros de história, apresentados a ela na infãncia, que apresentava os negros como escravos. Matheus contou o quanto a leitura do “Cartas para minha mãe” o emocionou e como Teresa trata de temas como o amor pela mãe, mas também aborda violência contra a mulher, violência contra crianças. 

A memória também é o substrato de “Em nome dos pais”, lançado em 2017, em que Matheus narra a própria busca pelos torturadores dos pais, a jornalista Míriam Leitão e Marcelo Netto. Nessa saga, enfrenta por momentos difíceis, como a entrevista com o torturador dos pais. A obra reflete como é absurdo o Brasil não olhar para o passado, para fraturas sociais, como a ditadura militar e a escravidão.

Ao ser questionada por Matheus, Márcia lamentou que o livro “Ridículo político”, de 2017, ainda é atual. “O que aconteceu foi uma tragédia, já era uma farsa, e a farsa se repete em versões cada vez mais pioradas”, afirma em relação à ascensão de um jeito de atuar na política a partir do grotesco, do impropério e do papelão. 

A conversa trouxe momentos de sensibilidade. A relação de Teresa com os sonhos e de um sonho recorrente que ela tinha na adolescência, que inspirou o poema “Caminhantes dos sonhos”. Teresa falou ainda do seu amor pela poesia, como gênero com mais verdade. Matheus se emocionou com trecho do livro de Teresa que descreve o céu. Apesar de se esforçar,  o jornalista já não consegue fazer o exercício de descrever o céu, o que era muito natural na infância. 

Márcia contou que retomou a escrita de um romance que abordará a política de matança das mulheres como algo que estrutura o patriarcado. Teresa revelou que está escrevendo uma novela desde 2014. Ao fim, Teresa leu o poema dedicado à avó e se emocionou.

Sobre o Fliparacatu

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu –  acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.