
por Gabriel Pinheiro
A 3ª edição do Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – reafirmou a vocação literária e cultural da cidade de Paracatu, no noroeste do estado de Minas Gerais. Ao longo de 5 dias – 27 a 31 de agosto – de uma programação intensa, o município e sua população abraçaram o Fliparacatu, seus autores e atrações convidadas. Foram momentos de trocas inspiradoras, discursos potentes e reflexões profundas sobre o poder da literatura na construção de imaginários e na interpretação do nosso tempo.
Um lema que apontou caminhos
Reunindo vozes diversas, com mais de 60 autores na programação, o 3.º Fliparacatu fez da palavra território de travessia, sob o lema “Literatura, encruzilhada e desumanização”. Após mesas e encontros com muitos dos nomes mais importantes de literatura em língua portuguesa de todo o globo, fica o sentimento e a certeza de que a arte de narrar e interpretar o mundo pode tanto expor as feridas do nosso tempo – e de tempos passados que seguem não cicatrizadas – quanto fabular caminhos de cura.
O trabalho curatorial das escritoras Bianca Santana e Daniela Prado e dos escritores Jeferson Tenório, Leo Cunha e Sérgio Abranches, sob presidência de Afonso Borges, teve como norte a diversidade, reunindo autores locais, nacionais e internacionais.
Livraria: a alma do Fliparacatu
O Centro Histórico de Paracatu se viu transformado pelo poder encantatório dos livros e da literatura. Uma livraria com mais de 20.000 títulos foi o centro do Festival, convidando a população paracatuense a mergulhar no desconhecido, nas surpresas que se escondem no gesto de abrir uma capa, de virar uma página.
O Teatro Afonso Arinos, que celebra a vida e a obra de um dos maiores escritores da nossa história, o paracatuense Afonso Arinos, foi palco de encontros memoráveis, com uma intensa e calorosa participação do público presente.
Um adeus emocionado a Luis Fernando Verissimo
O Fliparacatu prestou homenagem ao saudoso escritor Luis Fernando Verissimo, que nos deixou na madrugada de sábado, 30 de agosto. Profundamente emocionado, o presidente e fundador do Fliparacatu, Afonso Borges, celebrou a vida, a trajetória pública e a obra de seu grande amigo. “Ele era um jornalista, ele era um pessoa que sabia transferir o cotidiano, a vida comum, a vida das pessoas, com qualidade, com excelente qualidade, com elegância, com inteligência, com resistência democrática para o mundo da crônica. Ele é, seguramente, um dos maiores cronistas da língua portuguesa.”
Afonso Borges falou sobre Luis Fernando Verissimo para uma jovem plateia, composta por crianças e adolescentes entre 4 e 18 anos durante a Cerimônia de entrega do Prêmio de Redação, que mobilizou a comunidade escolar de Paracatu. Momento que emociona a cada ano, a Cerimônia celebra o encontro da juventude com o poder transformador da literatura, abrindo caminhos para futuros jovens artistas e escritores.
Celebrar a vida e a obra de Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe
Os homenageados desta edição, Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe, viveram o Fliparacatu intensamente, espalhando afeto, palavras e dedicatórias pelas ruas do Centro Histórico da cidade para um público leitor e apaixonado. Brasileiro – e mineiro – de alma e coração, Valter Hugo Mãe retornou ao Brasil e a Minas Gerais para dias de celebração e de profunda identificação com o público.
O Fliparacatu foi o primeiro festival literário do País a homenagear Ana Maria Gonçalves após a sua eleição para a cadeira de número 33 da Academia Brasileira de Letras. Um feito histórico, Ana é a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira nesta instituição secular. “Sou a primeira, mas não serei a única”, profetizou a nossa homenageada.
O tema do 3.º Fliparacatu – “Literatura, encruzilhada e desumanização” – partiu das obras dos homenageados para propor caminhos, inventar desvios e recalcular rotas no campo da literatura e do pensamento contemporâneo. “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, e “A desumanização”, de Valter Hugo Mãe, ecoaram durante os encontros, debates e conversas, dentro e fora do palco do Teatro Afonso Arinos, tanto entre escritores, quanto entre o todo o público.
Chamado para a ação e o resgate da nossa humanidade
Ana Maria Gonçalves abriu o Fliparacatu na quarta-feira, 27 de agosto, com um chamado para ação que ressoa como um dos discursos mais potentes e memoráveis de todas as edições do evento: “Discutir o Brasil, pensar o Brasil que a gente gostaria de construir e para o qual a arte e a literatura devem ser pilares. A literatura tem esse poder de imaginar futuros, imaginar possibilidades e, a partir da imaginação, partir para a ação. Que a gente possa fazer esse exercício neste Festival: mas que a gente parta para a ação”.
Encerrando a programação de mesas no sábado, 30 de agosto, o escritor Valter Hugo Mãe, em conversa com a colega homenageada e o curador do Fliparacatu, Sérgio Abranches, afirmou que a verdadeira humanidade é um caminho em direção ao esplendor dos gestos e não à normalização do horror. “Na verdade, o que estamos fazendo é adiar a possibilidade de nos reconhecermos verdadeiramente como humanidade. A gente como coletivo, como multidão, deve ganhar noção: Ou aceitamos aquilo que sabemos e mudamos o gesto ou nos entendemos apenas como bichos e não devemos ser declarados como humanidade.”
A cada mesa, a cada encontro, a cada troca, esta 3ª edição do Fliparacatu reafirmou que, diante das tentativas de apagamento, de esvaziamento e de destituição de nossa própria dignidade, a literatura e suas múltiplas encruzilhadas, que apontam caminhos e destinos, permanece como espaço de resistência, de invenção e de exercício radical da nossa humanidade.
3.º Fliparacatu
Com uma programação diversa, para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu houve debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.
O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.
Serviço:
3.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@fliparacatu.com.br
Jozane Faleiro – 31 992046367