Festival Literário já é referência em Minas ao unir leitura, arte e identidade local em uma programação inclusiva e transformadora

Por Cláudio Oliveira

O Festival Literário Internacional de Paracatu (Fliparacatu), criado em 2023 pelo empreendedor cultural Afonso Borges, também diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, vem se consolidando como um dos eventos mais significativos do calendário cultural do município. O Festival que tem sua terceira edição confirmada para acontecer de 27 a 31 de agosto, demonstra seu potencial transformador, promovendo encontros que unem literatura, diversidade, arte e cidadania. A cada ano, surpreende pela qualidade da programação e pelos convidados que proporcionam ao público algo inestimável: experiências enriquecedoras e saberes que marcam.

Ao reunir moradores locais e visitantes de diferentes regiões, o Fliparacatu cria um ambiente fértil para trocas culturais e aprendizado. É nesse espaço que se desenvolve uma consciência coletiva voltada para o conhecimento, em um movimento contínuo de descoberta e valorização do saber. A atmosfera que se forma vai além dos livros, dando voz a quem participa ativamente da construção cultural do evento e compartilha com entusiasmo suas vivências.

Educação

Um dos grandes destaques do Festival é a participação das escolas da rede municipal, que todos os anos mobilizam alunos e professores em atividades como oficinas, rodas de conversa, sessões de autógrafos e os aguardados concursos de redação e desenho. Essas ações, gratuitas e acessíveis à população, estimulam o senso crítico e a criatividade das crianças e adolescentes.

O secretário municipal de Educação e Tecnologia Tiago de Deus, destaca a participação ativa dos alunos nos concursos de redação e desenho, um dos pilares do Fliparacatu. Para ele, essas atividades despertam a criatividade, o senso crítico e ampliam o conhecimento dos estudantes. “O incentivo à leitura direciona e desperta para diversas áreas do saber, não apenas no campo da literatura, mas em todos os outros”, afirma.

A professora Flávia Pereira, que atua na educação em Paracatu há 19 anos, foi uma das homenageadas na 2ª edição do Fliparacatu, por meio do projeto “Muros Invisíveis: Professores Negros”. A iniciativa foi promovida pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu, em parceria com a Plataforma Semente, o Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (CAOMA), a Associação Cultural Sempre Um Papo e a Prefeitura de Paracatu.

A exposição/legado “Muros Invisíveis: Professores Negros” buscou dar visibilidade a docentes negros e negras, reconhecendo suas trajetórias e promovendo ações de reparação dentro do combate ao racismo ambiental. A proposta foi valorizar histórias inspiradoras e fortalecer o senso de pertencimento e identidade.

Emocionada, ela compartilha: “Despertou em mim um sentimento de pertencimento, um reforço da minha identidade como mulher negra, professora e militante da causa antirracista. Ouvir as histórias de vida de professores negros, suas lutas, dores e conquistas, me emocionou profundamente. Ao assistir minha participação em casa, minha filha sentiu muito orgulho de mim”.

Autores da cidade

Paracatu ainda não possui uma livraria, mas têm muitos escritores. Pensando nisso, o Festival Literário Internacional ofereceu palco, público e um verdadeiro “tapete de palavras” para que autores locais, ao lado de nomes consagrados, lançassem suas obras e distribuíssem autógrafos. “Foi o primeiro livro que lancei. Participar do evento foi extremamente importante para mim, não só pela visibilidade, mas porque impulsionou até mesmo as vendas da obra”, relata Silvano Avelar, membro da Academia de Letras do Noroeste de Minas, que lançou “Praia do Macaco”, livro que mistura memórias, travessuras e crítica socioambiental em prosa e verso.

Geração de emprego

Para que o festival aconteça com organização e qualidade, uma equipe de produção atua com afinco. Lorena Reis, que participou da edição anterior, destaca: “O maior aprendizado foi o trabalho em equipe. Precisávamos contabilizar os alunos, organizar oficinas e palestras. Tudo tinha que estar em ordem para funcionar”.

O Fliparacatu também promove o sentimento de pertencimento e acolhimento. A produtora cultural independente Isabella Neiva, afirma: “Acredito que o festival ampliou a visibilidade da cultura hip-hop em Paracatu, alcançando um novo público que talvez ainda não conhecesse nosso trabalho”. Já Thiago Soares, também produtor cultural, complementa: “É um privilégio trabalhar ao lado de grandes profissionais. Isso nos valoriza como artistas locais e nos motiva a crescer”.

Outro nome que se destaca é Junior Mattos, artista com mais de 25 anos de trajetória em Paracatu. “O Fliparacatu valorizou e reconheceu os talentos da cidade. Trabalhei com personagens e elementos cênicos que interagiam com o público. As pessoas esperavam, curiosas, para ver qual personagem surgiria a cada dia”.

A quitandeira Vania Macedo, também sentiu o impacto positivo do evento. Com mais de 10 anos de experiência na produção de quitandas típicas, ela precisou dobrar sua produção durante o festival. “A demanda foi muito além do esperado. Tivemos que reforçar o atendimento e os estoques para atender a todos na praça de alimentação”, conta.

Turismo em alta

Além de enriquecer a cena cultural, o Fliparacatu movimenta o turismo local. De acordo com o secretário municipal de Turismo Igor Diniz, o evento tem impacto direto na rede hoteleira, que alcançou mais de 70% de ocupação durante as edições. “Paracatu é uma cidade indutora do turismo. Recebemos visitantes de todo o entorno, de outros estados como São Paulo e Brasília e até de fora do país, como um grupo da Argentina na primeira edição”, destaca.

A cultura é uma poderosa ferramenta de transformação. Para o secretário municipal de Cultura Thiago Venâncio, o festival é um marco. “Acompanho o Fli desde sua primeira edição. Paracatu já figura no cenário nacional dos festivais literários. É um evento que fortalece a leitura, valoriza nossos escritores e mobiliza escolas com atividades preparatórias, envolvendo crianças, adolescentes e toda a comunidade”, conclui.

A leitura consolida-se como uma das mais potentes ferramentas de emancipação individual e transformação coletiva. Por meio dos livros, ampliamos horizontes e fortalecemos o sentimento de pertencimento cultural. Uma sociedade que lê é uma sociedade que pensa, questiona e constrói, com autonomia, os caminhos do próprio futuro.

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.