Festival literário discute políticas públicas para democratizar o acesso à leitura, valorizar a cadeia produtiva do livro e fortalecer bibliotecas no Brasil

Democratizar o acesso, fomentar a leitura e a formação de mediadores, valorizar a cadeia produtiva do livro e fortalecer a rede de bibliotecas são pilares do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e ganharam voz na tarde desta quinta-feira, 28 de agosto, durante a 3ª edição do Festival Literário Internacional de Paracatu — Fliparacatu 2025. A mesa teve como tema Políticas de Livro e Leitura e contou com a participação de Andressa Marques, professora, escritora e doutora em Literatura; Jéferson Assumção, escritor, doutor em Filosofia e diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC); e Afonso Borges, idealizador e presidente do Fliparacatu.

A conversa trouxe para o debate a discussão sobre como transformar as diretrizes do PNLL em realidade, aproximando as políticas públicas da vivência dos leitores brasileiros. O debate colocou em evidência um ponto central: como tornar o direito à leitura uma prática cotidiana, capaz de fortalecer educação, cultura e cidadania. A introdução da mesa ficou com Afonso, com uma fala potente sobre o processo de resistência da lei de incentivo à cultura. “Fizeram justiça a Sérgio Paulo Rouanet, que tanto lutou pela mecânica de repasse de recursos. É uma lei que criou uma autodefesa em relação aos ataques e, hoje, estamos aqui falando nela”, concluiu Afonso ao falar do processo transitório da Lei Rouanet.

O processo de debate do PNLL sinaliza todo o movimento de escuta que criou a robustez de construção do plano. De acordo com Jéferson, o Fliparacatu é uma materialização da relevância que o livro e a literatura têm dentro do Ministério da Cultura. “Se a gente articular o livro com a festa popular, conseguimos que venha à tona o desejo [por leitura] que existe”, afirma Jéferson.

A acessibilidade popular citada por Jéferson vai ao encontro do pensamento de Andressa, que analisa que essa tendência faz parte da concretização do Plano Nacional. “O primeiro eixo do PNLL é a democratização do acesso à cultura e, quando chegamos aqui, vimos as crianças saindo do auditório. Essa formação de uma sociedade leitora é algo muito importante”, reflete e complementa sobre o momento de diversidade da Lei Rouanet: “Exemplos como a Rouanet Favela e a Rouanet Juventude, que são produções culturais de uma ordem menor, diversificam e levam esse mecanismo para os territórios.”

Essa expansão se torna ainda mais relevante quando a análise é o histórico brasileiro em relação ao livro e à literatura. Isso porque, até 1808, era proibido fazer livros, e ainda há todo o processo escravocrata do país, como lembra Jéferson, que cita Millôr Fernandes: “O Brasil tem o seu passado à frente.” Nesse contexto de complexidades, ele indaga o que simboliza a leitura hoje. “Os territórios têm vindo com uma força enorme dentro da literatura e confrontando as formas tradicionais de fazer cultura no Brasil, e saber quem são essas pessoas é fundamental para o plano”, conta o diretor do MinC, Jéferson Assumção.

O panorama de construção do Plano funciona a partir de um acordo social entre o Estado e a sociedade, com o foco em promover a literatura, a escrita e a leitura. Tudo isso a partir de recursos que buscam fomentar essas diretrizes, com simplicidade de acesso. “Na construção do PNLL há a descentralização regional e o envolvimento de grupos minoritários”, conta Andressa Marques.

No Fliparacatu, o debate do PNLL dentro de um festival literário envolve a comunidade literária na construção das políticas de leitura, a partir de estratégias de expansão aos municípios brasileiros e com devolução de cultura ao povo brasileiro. Dentre essas estratégias, Jéferson endossa a importância de elevar o livro a um lugar de destaque no imaginário coletivo, a partir de ações midiáticas que deem destaque ao livro. “Também é fundamental que as escolas formem leitores. Falo do leitor cultural, aquela literatura que vai além do Enem. Trata-se de pensar em uma leitura ampla, que funcione como ampliador de repertório, com diversidade cultural brasileira e combata a desigualdade”, destaca Jéferson que fala de como a leitura em família é essencial: “Agora, todos os condomínios do ‘Minha Casa, Minha Vida’ terão uma biblioteca”, afirma.

Para fechar o papo, Afonso pediu para que os convidados falassem um pouco sobre a Lei Cortez, projeto de lei que busca regulamentar o comércio de livros, com a proibição de descontos superiores a 10% sobre o preço de capa nos primeiros 12 meses após o lançamento de uma obra. Jéferson contou que a lei está no último estágio no Senado e é fundamental que seja aprovada. “O ecossistema [do livro] todo se beneficia disso. A lei pode auxiliar na recomposição das livrarias no país. A ideia de biblioteca americana está em crise. Isso não acontece apenas no Brasil, até porque todo mundo acha que pode fazer pesquisa pelo celular. Hoje, temos que pensar nas bibliotecas como centros culturais, com sentido e presença, saraus e slam. Não tem como pensar nessa biblio silenciosa. Temos que pensar nessa biblioteca viva”, alerta.

Nesses novos caminhos, Jéferson destacou a importância dessas bibliotecas como espaços culturais que precisam de acervos renovados e sobre a ação do Ministério da Cultura, que integrou ao Programa do Livro Didático Literário a distribuição para todas as bibliotecas públicas e comunitárias do Brasil. “É importante que haja bibliotecas por toda parte. Isso é valorização social, mas estamos em um processo de retomada. O fechamento do Ministério da Cultura [em 2016] tem reflexos negativos na vida das pessoas. Para se ter ideia, foram mil bibliotecas fechadas pelo país”, reflete.

Andressa fechou a participação na mesa com o convite e ação em prol do livro e da literatura: “Convido vocês a acompanharem o calendário do Plano Nacional do Livro e Leitura até o fim de outubro. O plano será publicado com decreto assinado pelo presidente Lula e vamos para a valorização do livro nas nossas ações”.

O Festival
Com uma programação diversa para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu acontecem debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.

Serviço:
3.º Festival Literário Internacional de Paracatu Fliparacatu
Data: de 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu
Entrada gratuita

Informações para a imprensa:
imprensa@fliparacatu.com.br
Jozane Faleiro – 31 992046367