Mesa celebrou a eleição da homenageada para a Academia Brasileira de Letras e resgatou memórias de infância dos autores convidados

 

por Gabriel Pinheiro

 

“Palavra-herança” foi o tema da mesa que convidou a homenageada do 3.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu, Ana Maria Gonçalves, para o palco do Teatro Afonso Arinos, ao lado da escritora e curadora Bianca Santana e do escritor Marcelino Freire. O escritor e curador Sérgio Abranches foi o anfitrião da mesa. Logo antes da conversa, todo o público presente se levantou para aplaudir de pé Ana Maria Gonçalves, primeira escritora negra a integrar a Academia Brasileira de Letras. O título de imortal, é claro, foi um dos temas abordados na conversa que se seguiu. “Que ela seja a primeira de muitas”, destacou Sérgio Abranches.

 

“Discutir o Brasil, pensar o Brasil que a gente gostaria de construir e para o qual a arte e a literatura devem ser pilares. A literatura tem esse poder de imaginar futuros, imaginar possibilidades e, a partir da imaginação, partir para a ação. Que a gente possa fazer esse exercício neste Festival: mas que a gente parta para a ação”, abriu de maneira contundente a conversa Ana Maria Gonçalves. Na sequência, trazendo o título da mesa para a conversa, Bianca Santana destacou o papel da literatura como forma de transmitir uma herança por meio das palavras e da leitura. “Eu me sinto herdeira de minha avó Apolinária, que dá título ao meu novo livro, mas também me sinto herdeira de Ana Maria Gonçalves, de Marcelino Freire, de Sérgio Abranches.” Bianca, em seguida, leu um sensível trecho de seu novo livro e primeiro romance, gesto que foi replicado pelos outros dois participantes, que compartilharam trechos de suas próprias obras com o público presente.

 

Marcelino Freire trouxe para a mesa o tema da infância, também à luz da temática da conversa desta noite. Bianca comentou ter sido uma criança perguntadeira. Rememorando uma entrevista que fez com Ana Maria Gonçalves no passado, comentou: “Minha criança perguntadeira ficou muito feliz com essa oportunidade”. Ana, na sequência, declarou ter sido uma criança curiosa e leitora. “A literatura, pra mim, foram os óculos de Miguilim. Ela me fazia enxergar para além ou acima das montanhas: o quê que existe para além disso  aqui que estou vendo?” Marcelino Freire também destacou a importância da leitura e da escrita em sua infância e na dinâmica familiar. “Olha onde que a literatura e a leitura me levaram?”

 

Bianca perguntou para os colegas: “Qual a herança que vocês deixam?” Ana Maria Gonçalves disse que esse pensamento esteve com ela no momento que largou a carreira na publicidade: “Acho que essa não é a herança que eu quero deixar pro mundo. Eu queria fazer algo diferente. (…) Eu espero que a minha herança seja a literatura”.

 

“A revolução sempre será poética. O que esses regimes totalitários querem acabar é com a poesia. Não existe vocabulário poético nesses regimes. É só um vocabulário para levantar muros e perseguir pessoas. O que nós estamos vivendo aqui em Paracatu é a revolução pela poesia. É tudo o que eles não querem e é o que a gente quer”, destacou Marcelino numa fala emocionante.

 

Para Bianca, sua herança está na possibilidade de buscar outras versões de uma mesma história. “Quero deixar essa certeza de que mesmo quando dizem que algo não existe, que a gente possa buscar uma história. Além da certeza de que quem quiser contar uma história, pode contá-la.”

 

No fim da conversa, a partir de uma indagação de Ana Maria Gonçalves, os convidados relembraram o momento em que entenderam o poder da literatura. Ana e Marcelino relembraram algumas de suas primeiras leituras a literatura de terror de “O exorcista”, para Ana, e a poesia de Manuel Bandeira, para Marcelino. Bianca concluiu: “A literatura me abrigou e eu sigo tentando entendê-la aqui com vocês”.

 

3.º Fliparacatu

 

Com uma programação diversa para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu haverá debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

 

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.

 

Serviço:

3.º Festival Literário Internacional de Paracatu Fliparacatu

De 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br

Jozane Faleiro  – 31 992046367