Mesa “Ontem foi hoje” contou com mediação da anfitriã Lívia Sant’anna Vaz e depoimentos marcantes

 

por Gabriel Pinheiro

 

No início da noite desta quinta-feira do 3.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu, o Teatro Afonso Arinos recebeu as escritoras Julia Codo e Carolina Rocha e o escritor Matheus Leitão para uma conversa com o temaOntem foi hoje”. A anfitriã da conversa foi a autora Lívia Sant’anna Vaz.

 

Lívia abriu o papo com uma provocação: “Talvez o nome dessa mesa poderia terminar com uma interrogação: ontem foi hoje? Por que será que o hoje segue sendo uma repetição do ontem?” Na sequência, a anfitriã soltou o seguinte questionamento: “O que a literatura pode fazer para nos ajudar a apaziguar essas dores? Como ela pode ser resistência, para desenterrar essas histórias e fazer justiça?”

 

Para Julia Codo, a literatura é uma forma de elaborar. “Talvez seja uma forma que a gente tenha de cutucar uma ferida, de se aprofundar numa dor e sair dali tendo construído algum sentido. A literatura tem um poder que é o da aproximação. Ela vai pegar um detalhe, o pequeno, mas vai ser uma lupa. Ela tem esse poder de te transportar para a dor do outro.” Na sequência, Julia falou sobre seu novo romance, “Caderno de ossos”, um romance-escavação sobre os segredos de uma família, os desaparecidos da ditadura militar e o futuro de um país.

 

Na sequência, Matheus Leitão falou sobre uma cultura do esquecimento na história e na formação do Brasil. “O Brasil tem uma cultura do esquecimento. Essa cultura do apagamento toma uma forma onde tudo se diminuiu: se diminui a violência contra o povo negro, por exemplo.” O escritor rememorou a história dos pais, vítimas da violência da ditadura militar brasileira, história onde  ele mergulha no best-seller “Em nome dos pais”. “Essa cultura de violência atinge até hoje de uma forma muito violenta especialmente a população indígena e negra. Essa violência a gente sabe de onde vem, de onde começou e porquê está continuando.”

 

Carolina Rocha começou sua fala saudando a terra de Paracatu e a história deste território. “A gente tem ancestralidade, a gente valoriza os que vieram antes. Memória pra gente é um valor civilizatório.” A escritora debateu o preconceito contra as religiões de matrizes africanas e celebrou a temática desta edição do Fliparacatu, “Literatura, encruzilhada e a desumanização”: “Foi uma coragem e uma ousadia trazer a encruzilhada como tema. A encruzilhada como uma chave para entender o Brasil”. A autora comentou sobre seu livro “A culpa é do Diabo”, em que investiga o racismo religioso. “Quando você conta uma história, você se aproxima, você se coloca no lugar do outro. A gente vai se sensibilizando e encontrando os ecos dessas histórias dentro da gente. (…) Contar essas histórias devolve nossa dignidade perdida.”

 

Retomando a temática desta edição do Festival, Livia questionou: “Como que a literatura, nessa encruzilhada, pode se alimentar para encontrar caminhos de humanização, ao invés de desumanização?”

 

Matheus comentou sobre novos caminhos em seu projeto literário: “Tenho tentado escrever coisas que saem deste tema da ditadura, que é um tema que me acompanha. Tenho buscado escrever ficção, para além da não-ficção. Como repórter investigativo há 25 anos, tem sido um grande desafio entrar na ficção. Mas percebo que algumas ferramentas que desenvolvi nessa trajetória tem me ajudado nesse caminho”.

 

“A literatura tem o poder de nos lembrar da nossa própria humanidade”, destacou Julia Codo. “Pensando no futuro, o que a gente quer? Nós estamos num momento crucial”, acrescentou. Ao fim, Carolina Rocha falou sobre seu livro, “A culpa é do Diabo” e como ele olha para as encruzilhadas das mulheres negras no Brasil: “Eu comecei fazendo um livro sobre a violência e terminei falando sobre uma política da resistência”.

 

“Que saiamos daqui com esse incômodo que transforme indignação em ação”, concluiu Lívia Sant’anna Vaz, de maneira contundente e marcante para todos os presentes no Teatro Afonso Arinos.

 

3.º Fliparacatu

 

Com uma programação diversa para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu acontecem debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

 

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.

 

Serviço:

3.º Festival Literário Internacional de Paracatu Fliparacatu

De 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br

Jozane Faleiro  – 31 992046367