
A mostra “Muros Invisíveis – Professores Negros”, apresentada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu, a Plataforma Semente, o Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente – Caoma – e a Associação Cultural Sempre um Papo, em parceria com a Prefeitura de Paracatu, foi o tema do consagrado Prêmio de Redação e Desenho, considerado um dos momentos mais importantes do Fliparacatu, que mobiliza todas as escolas do município de Paracatu.
A premiação tem como objetivo estimular a criação literária e artística das crianças e dos jovens, no formato Fanfic, com o objetivo de revelar novos talentos. Para participar, os candidatos basearam-se na exposição e então desenvolveram uma redação ou um desenho no formato Fanfic – ou seja, uma produção na qual os estudantes criaram suas próprias histórias, baseadas no universo da mostra.
O júri das categorias Desenho e Redação foi composto pelo jornalista Cláudio Oliveira, pela historiadora, professora aposentada e produtora cultural Helen Ulhôa Pimentel e pelos professores Vinicius Paz de Araújo e José Ivan Lopes. No total, 43 escolas inscreveram seus alunos, quase o dobro da primeira edição. Foram 44 desenhos inscritos em três categorias e 47 redações, também em três categorias, o que totaliza 91 trabalhos feitos por estudantes de Paracatu. Cerca de 32 mil alunos da comunidade escolar de Paracatu foram envolvidos na premiação.
Com prêmios em dinheiro, além de troféus, as redações foram escritas em sala de aula. As próprias escolas fizeram a seleção interna e enviaram os desenhos e redações para concorrer ao Prêmio. Os professores dos alunos premiados foram agraciados com livros escolhidos pela Coordenação do 2.º Fliparacatu.
Puderam participar do concurso alunos de 4 a 18 anos, de escolas públicas e privadas de Paracatu. Ao todo, são seis categorias – três para “desenho” e três para “redação” –, sendo que cada uma contou com 1.º, 2.º e 3.º lugares. A novidade desta edição é que o Prêmio de Redação e Desenho do 2.º Fliparacatu abriu uma nova categoria voltada para estudantes PCDs (Pessoas com Deficiência) entre 9 e 18 anos de idade, não alfabetizados. Ou seja, estes alunos, que não dominam a linguagem escrita, puderam participar com um desenho, seguindo a temática proposta pelo Festival. Os estudantes PCD entre 4 e 8 anos participaram da Categoria 1 (Desenho) – de 4 a 5 anos (Educação Infantil) – e da Categoria 2 (Desenho) – de 6 a 8 anos (Fundamental I). A criação de uma categoria voltada a crianças e adolescentes PCDs visa à ampliação de possibilidades para garantir e estimular as potencialidades de toda a rede educacional paracatuense, com equidade, e que será perpetuada nas próximas edições do Festival.
Presenças ilustres
Para entregar os troféus e os livros aos estudantes e seus professores, a cerimonialista da entrega do prêmio, Jozane Faleiro, convidou os escritores infantojuvenis Alessandra Roscoe, Tino Freitas e Leo Cunha, curador da programação voltada para o público mais jovem. Também subiram ao palco a escritora Conceição Evaristo, condecorada na noite de sexta-feira do 2.º Fliparacatu com o título de Cavaleiro das Artes e Letras, uma prestigiosa condecoração cultural francesa que celebra contribuições significativas às artes e às letras, e Ailton Krenak, Autor Homenageado do Festival.
Ao fim da cerimônia, a escritora Lívia Sant’Anna Vaz leu uma das redações participantes do Prêmio de Redação. Em seguida, foi a vez de Ailton Krenak dirigir-se aos pequenos vencedores, que se colocaram ao lado do palco, enquanto seguravam seus troféus:
Acho que eu vou cantar. Saúdo a todos. Bom dia nesse dia lindo, com essa luz maravilhosa de Paracatu. A luz é tão linda. Receber as crianças aqui no auditório, iniciar com eles esse contato com um tipo de experiência que para eles talvez não tenha o mesmo sentido que para nós. Para algumas dessas crianças, estar aqui recebendo essa homenagem chega a ser quase um constrangimento. Tem um provérbio que diz que homenagem não pode ser constrangimento. Então, crianças queridas, aqueles mais pequenininhos e aqueles que são mais grandinhos, essas pessoas lindas que estão começando a trilhar essas jornadas, esses palcos, esses caminhos, mantenham os seus coraçõezinhos no lugar onde eles sempre estiveram, seguros. A beleza de vocês é que dá sentido ao mundo. Os desenhos que vocês fazem, os textos que vocês escrevem, as palavras que vocês comunicam é o sentido da literatura, do desenho, da arte. Tudo isso já está no coração da gente quando a gente nasce. Eu fico muito honrado de ficar com a incumbência de dirigir a minha palavra a vocês. Eu sei que aqui tem muita gente adulta, tem os professores de vocês, os orientadores, os “ajudadores” de vocês. É maravilhoso que exista essa camada de adultos que estão dedicados a ver vocês, ver que para subir essa rampa vocês têm dificuldade. Tem que olhar direitinho, se não tropeça, para subir essa escadinha de trabalho. Então, quero cumprimentar vocês, cada um de vocês, os que receberam os troféus, os que receberam prêmios, e dizer para vocês: bem-vindos a esse mundo incrível, cheio de muros invisíveis, que vocês vão ter de ajudar a desmanchar.
Em seguida, Ailton apresentou uma pequena cantiga da etnia Krenak, à qual pertence, para saudar as crianças. Seguindo a sua fala, foi a vez da escritora Conceição Evaristo a dar algumas palavrinhas sobre o Prêmio de Redação e Desenho do 2.º Fliparacatu:
Bom dia às crianças, aos jovens que participaram disso, desse momento, desse concurso, e meu abraço é especial para os professores, porque a minha carreira profissional foi feita no Rio de Janeiro como professora de primeira a quarta série, em escola de periferia. E foi bom que ofereceram o lencinho antes para nós, porque, Afonso, acho que esse é o momento alto dos eventos de literatura, porque, sem sombra de dúvida, acho que estamos plantando esperança, reconhecendo novas pessoas – novas pessoas, porque são pessoinhas, novas pessoas no caminho da arte. Mas eu queria também ressaltar a importância desse evento ao homenagear professores negros. E por quê? Porque, na verdade, principalmente as mulheres, as mulheres negras, se a gente voltar à história da escravização, da colonização, talvez as primeiras preceptoras, as primeiras professoras foram as mulheres negras dentro da casa grande. Essas mulheres tinham obrigações, elas cuidavam da prole da casa grande. Então, essas mulheres, de uma maneira, exerciam também esse papel de educadoras. Quantas crianças foram aprender, inclusive, a língua falada no Brasil, por meio da pronúncia, desse exercício de professoras. Então, acho que a gente está caminhando num resgate histórico quando homenageia professoras negras e, mais do que isso, está incutindo nas crianças, e é aí que mora a nossa esperança, porque crianças brancas, crianças negras, professores brancos, professores negros assumem essa dinâmica da relação racial no Brasil e assumem pela educação. Então, deixo aqui os meus parabéns. Mais uma vez, também, passei a minha infância sem conhecer um escritor ou uma escritora de perto. Então, hoje, Krenak, quando as crianças te veem e te reconhecem, ajuda também a terminar com aquele mito que o sujeito indígena ficava lá, aquele imaginário da linguagem indígena, do deboche que é feito em cima das comunidades indígenas. Penso que você traz para o palco um exemplo vivo, que nós não somos o passado, nós somos essa história presente, nós estamos aqui e agora. Obrigada e, mais uma vez, parabéns.
Em seguida, a cerimônia contou com a presença de Rose Bispo, quilombola e curadora da mostra “Muros Invisíveis – Professores Negros”, que discursou antes de encerrar a premiação:
Quero cumprimentar aqui, principalmente, todos os professores, que são de suma importância, que assumem a responsabilidade da família, assumem a responsabilidade da família paracatuense, com a educação, com o comprometimento de cada um e de todos os presentes. Eu queria, primeiro, agradecer ao Afonso pela oportunidade e pelo sentimento e a expertise de quando criou o “Muros Invisíveis”, teve a sensibilidade de nos colocar como prioridade quando me convida a fazer essa curadoria com esses professores, porque nós somos daqui, nós sabemos o que acontece, quem é quem, como funciona. Então, esse respeito com Paracatu é muito importante. Trago aqui as vozes das comunidades quilombolas, da educação, da cultura, do esporte, do lazer, do hip-hop, da capoeira. Trago a voz de todos nessa minha fala, porque são todas essas pessoas que são responsáveis, nos antecedem. Estou aqui como uma privilegiada de fazer parte de um projeto tão maravilhoso. Então eu queria agradecer a todos que me antecederam, porque deixaram a história e um legado que eu possa continuar carregando. E agradecer quando a gente fala de alunos. Eu estava ali chorando o tempo todo. Eu queria dizer da importância desse “Muros Invisíveis” para tantos alunos negros, periféricos, da zona rural, da zona urbana, que se sentiram tão importantes e que agora eles têm um outro olhar sobre tudo isso que a gente fala que é educação.
Redações e desenhos premiados
Confira abaixo, clicando nos nomes dos premiados, os trabalhos vencedores!
DESENHO
CATEGORIA 4 a 5 ANOS
3.º lugar: Arthur Almeida Santos – 4 anos – Colégio Dom Elizeu – Professora Fabíola
CATEGORIA 6 a 8 ANOS
3.º lugar: Julia de Paula Oliveira Ferreira – 7 anos – Colégio Dom Elizeu – Professora Claudilene
CATEGORIA PCD
REDAÇÃO
CATEGORIA 9 A 11 ANOS
1.º lugar: Maria Leôncio Botelho – 10 anos – Colégio Atenas – Professora Giulia Cordeiro
Título: A professora da pele cor carvalho
Título: História de Leila
Título: O melhor amigo do homem aranha – o professor negro
CATEGORIA 12 A 15 ANOS
Título: Uma história de professor
Título: O herói que a história não contou
Título: A heroína da educação
CATEGORIA 16 A 18 ANOS
Título: Uma Imprescindível mulher
Título: Poesias invisíveis
3.º lugar: Pillar Barros Meireles – 16 anos – Colégio Império Up – Professor Gustavo Coimbra
Título: Acordando para um sonho
A premiação completa, transmitida ao vivo, em 4K, pode ser conferida no canal do YouTube do Fliparacatu, clicando aqui.
Sobre o Fliparacatu
O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.
Serviço:
2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 28 de agosto a 1.º de setembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@fliparacatu.com.br
Jozane Faleiro – 31 992046367/ Letícia Finamore – 31 982522002