Conversa foi marcada por falas marcantes e emocionantes sobre o amor, a barbárie, os afetos e a maternidade

 

por Gabriel Pinheiro

 

No fim da tarde desta sexta-feira do 3,º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu, o público foi agraciado com a chuva, refrescando a temperatura na cidade, e com uma mesa poderosa. “Ilhas estranhas” recebeu Airton Souza, Andréa del Fuego e Taiane Santi Martins. O curador Jeferson Tenório foi o anfitrião da conversa no Teatro Afonso Arinos.

 

Jeferson Tenório deu início à conversa destacando como os romances dos três convidados da mesa são protagonizados por personagens marcantes e pediu para que cada um deles falasse sobre tais figuras. “Estar aqui com vocês significa acreditar nesse processo de reumanização”, declarou Airton Souza na abertura da sua fala. “Outono de carne estranha”, seu romance, é situado em Serra Pelada, território marcado pela disputa de terra e conflitos. Segundo ele, a construção das personagens passou pela afetividade, como forma de romper com um ciclo de violência daquele território. “A única possibilidade que temos para vencer as violências e as barbáries ainda é o amor. É a única forma de cruzarmos as encruzilhadas do horror.”

 

Na sequência, Andréa Del Fuego comentou sobre a construção de “A pediatra”: “Eu fui trazendo muitas coisas da minha própria vivência, da minha própria gestação na escrita do romance”. De um humor mordaz, o romance apresenta a história de uma personagem muito peculiar: Cecília, uma pediatra nada afeita a crianças. “A gestação alterou a minha linguagem”, declarou. Sobre a experiência da gestação, do parto e sua relação com a sua obra: “A construção de ‘A pediatra’ é resultado de ter pensado muito sobre a maternidade, pois meu parto foi cheio de questões, com muito medo. (…) O livro foi feito para dizer como é perigoso nascer”.

 

Mãe do pequeno Theo, de oito meses, Taiane Santi Martins abriu sua fala emocionada, refletindo sobre as questões acerca da maternidade apresentadas por Andréa Del Fuego. A escritora falou sobre a escrita de seu primeiro romance, “Mikaia”, escrito a partir de uma pequena ilha de Moçambique. “Nenhum homem é uma ilha isolada, as nossas histórias não são isoladas. Estamos todos aqui fazendo literatura, olhando para esse amor, algo que nos torne mais humanos.

 

Jeferson destacou o lirismo e os canários poéticos do romance de Airton Souza. “Você consegue fazer uma narrativa que nos mantenha atentos nesse cenário, que é hostil”, ele destacou. Segundo Souza, o livro é atravessado pela trajetória dos próprios pais. “Aprendi através dos livros de vocês que a única forma que nós temos de vingar as pessoas que vieram da extrema pobreza é através da arte. A literatura foi meu aporte de vingança.” Ele complementou: “Eu vi o garimpo produzir o horror dentro da minha casa. A forma de me vingar foi contar essa história”.

 

Na conclusão de sua fala, Airton leu um trecho de seu novo e ainda inédito romance com exclusividade para o público presente. “Sonhar é ainda a única maneira de enxergar o mundo com ternura”, concluiu o trecho compartilhado pelo escritor. Na sequência, Andréa também apresentou um trecho de seu próximo livro, que será lançado em breve, e Taiane fez uma breve leitura de “Mikaia”. No fim, Sérgio Abranches, também curador, celebrou o fato de os convidados terem deixado a emoção aflorar ao longo da conversa.

 

3.º Fliparacatu

 

Com uma programação diversa, para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu haverá debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

 

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.

 

Serviço:

3.º Festival Literário Internacional de Paracatu Fliparacatu

De 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br

Jozane Faleiro  – 31 992046367