Por Letícia Finamore

Na tarde quente de sábado, dia 31 de agosto de 2024, o palco do Auditório Afonso Arinos recebeu os escritores Sérgio Rodrigues, Edney Silvestre e a cubana Teresa Cárdenas. Com início às 16 horas, Silvestre deu o pontapé inicial do encontro, sugerindo que cada um dos autores que o acompanhavam lessem um trecho de seus trabalhos. Quem iniciou as leituras foi Teresa, que apresentou seu trabalho como abrangente de temas fortes e complexos, que remetem à ancestralidade e à memória, apresentando famílias pretas como protagonistas. O livro que escolheu foi “Cachorro velho”. A obra conta a história da personagem homônima, escravo no engenho de açúcar do patrão. A obra ganhou a mais alta honra literária de Cuba, Casa de las Américas.

Em seguida, Sérgio Rodrigues decidiu ler um trecho de “A vida futura”, seu romance mais recente. O livro imagina o retorno dos fantasmas dos escritores Machado de Assis e José de Alencar ao Rio de Janeiro do século XXI. Narrada pelo ponto de vista de Machado, Rodrigues afirma que a decisão de dar voz a um dos autores mais relevantes da língua portuguesa foi um ato de “insanidade”. A escolha de Sérgio foi “No formigueiro das almas”, capítulo inicial da obra.

Depois foi a vez de Edney Silvestre apresentar um de seus trabalhos. O escritor foi ousado ao selecionar uma obra que ainda não fora publicada – segundo o escritor, trata-se de um livro que contempla sua faceta jornalística. Sem divulgar o nome da obra, Edney remonta um de seus trabalhos anteriores, como uma coluna na qual entrevistava pessoas ditas “comuns”, mas que no entanto eram pessoas que se dedicavam a trabalhos incomuns. Enquanto desenvolveu essa coluna, entrevistou um homem que tinha uma creche próximo à Central do Brasil, estação localizada no Centro do Rio de Janeiro. As crianças da creche eram, na verdade, filhas de prostitutas que não tinham onde deixar seus filhos. A história imagina a vida de um dos pequenos que, quando adulto, seguiu os mesmos passos de sua mãe e se tornou garoto de programa.

A partir das leituras de trechos de suas respectivas obras, Edney Silvestre suspendeu uma pergunta no ar: “por que escrevemos?” Teresa Cárdenas logo disse que se considera uma mensageira, e que é uma tarefa pessoal escrever para que passe seus conhecimentos de mundo para outras pessoas. Sérgio Rodrigues, por sua vez, foi misterioso e respondeu: “Escrever é descobrir o que nós escreveríamos se escrevêssemos”. Dando continuidade a essa fala que brinca com a linguagem, o escritor afirma que é preciso escrever muito, tentar, explorar caminhos, tentar encontrar a sua voz, jogar fora o que não funciona, mas ao mesmo tempo colocar-se em um estado de disponibilidade para que a linguagem fale por seu intermédio. Indo além, o escritor de “A vida futura” finaliza dizendo que é muito importante, com toda a “arrogância” de criadores de mundos e personagens, é preciso ter humildade para entender o que a linguagem quer dizer.

Dando continuidade, os três escritores passaram a refletir sobre como a parcela da escrita pertencente à literatura desnuda inconscientes de quem está no controle das palavras. Sem chegar a uma conclusão, cada um apresentou hipóteses e argumentos que enriqueceram o encontro da tarde de sábado.

Sobre o Fliparacatu

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.

Serviço:

2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 28 de agosto a 1.º de setembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu
Entrada gratuita

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br