Mesa que teve como anfitriã a escritora Cibele Tenório abordou literatura, acesso e políticas de ações afirmativas

 

por Gabriel Pinheiro

 

Andressa Marques, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches se encontraram no palco do Teatro Afonso Arinos neste segundo dia de 3.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu, numa conversa que contou com a escritora Cibele Tenório como anfitriã. Com o título “Acessos alargados”, a mesa abordou a cotas raciais, tema dos romances mais recentes tanto de Jeferson quanto de Alessandra.

 

Sérgio Abranches saudou a política de cotas em sua fala de abertura, resgatando sua trajetória em defesa pública desta importante ferramenta de acesso à cidadania. “As cotas deram certo e trouxeram para esse universo letrado da faculdade pessoas que são agentes de sua própria história. Me sinto muito bem nessa mesa ao lado destes três filhos das cotas.”

 

Autora de “A construção”, Andressa falou sobre este seu romance de estreia e a sua trajetória pessoal enquanto aluna cotista na UNB. “Fui uma das primeiras cotistas da Universidade de Brasília. (…) O meu romance traz a proposta de falar sobre algumas construções de uma família negra. Há a história dos trabalhadores negros que constríram a cidade de Brasília, uma cidade marcada por um racismo socio-espacial.” Na sequência, Andressa complementou: “Eu não sabia que ser cotista ia me marcar tanto. Quando eu encontrei o meu romance, me senti feliz em entender que eu sempre serei cotista”, dizendo sobre como essa experiência acabou se tornando matéria para a ficção.

 

Jeferson Tenório comentou sobre o início das cotas e o levante de intelectuais brancos contra as ações afirmativas. “As cotas se mostraram muito bem sucedidas, um programa que, de fato, trouxe um avanço nessa inclusão de pessoas negras e periféricas na universidade.”

 

O autor compartilhou com o público uma experiência de quase afogamento na infância: “Naquele momento eu senti raiva do mar. Ele deixou de ser um brinquedo pra mim e passou a ser um abismo, um mistério que tentou tirar a minha vida”. Ele refletiu sobre o processo de perdão que teve que empreender na relação com o mar e o relacionou com a sua própria experiência na universidade  “espaço também hostil por natureza” e como seu novo romance é uma espécie de processo de perdão também na sua relação com o ambiente universitário.

 

O curador Sérgio Abranches falou sobre o papel da curadoria na diversidade: “A minha felicidade é a gente ter tido a epifania de perceber que nossos festivais eram brancos demais.Temos que fazer festivais paritários. Isso tem sido pedagógico para outros festivais no Brasil. Não dá para fazer festivais literários e falar sobre o Brasil, sobre sentimentos e sobre a sociedade apenas entre brancos”.

 

Andressa comentou sobre o processo de descoberta da sua própria história familiar na escrita do romance. “Quantas histórias de famílias negras nós não conhecemos?” Na sequência, Jeferson concluiu a conversa falando sobre a construção do protagonista de seu romance “De onde eles vêm”, Joaquim.

 

3.º Fliparacatu

 

Com uma programação diversa, para todos os públicos, no 3.º Fliparacatu haverá debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para as crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Valter Hugo Mãe e Ana Maria Gonçalves e tem a curadoria de Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

 

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Caixa, da Prefeitura de Paracatu, da Academia de Letras do Noroeste de Minas e parceria de mídia do Amado Mundo.

 

Serviço:

3.º Festival Literário Internacional de Paracatu Fliparacatu

De 27 a 31 de agosto, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu

Entrada gratuita

 

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br

Jozane Faleiro  – 31 992046367