por Gabriel Pinheiro

A escritora Trudruá Dorrico e os escritores Joca Reiners Terron e Tom Farias abriram a programação noturna do Auditório Afonso Arinos nesta sexta-feira do 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu. Trudruá iniciou sua fala abordando a literatura indígena e o seu poder de reescritura de uma história, até pouco tempo, contada por pessoas não indígenas. “As narrativas de origem tem me ensinado a não discutir com tanta fúria temas tão triviais.”  Na sequência, Tom Farias falou sobre a falta de escuta na sociedade contemporânea e como isso torna as pessoas iguais. “Isso vai formatando os nossos comportamentos.” Ele, então, destacou a importância da perspectiva da ancestralidade que está presente no trabalho de Trudruá. “A sua forma de escrever e de pensar toca em todos nós.”

Joca Reiners Terron fez uma longa e profunda reflexão sobre a ideia de literatura e a nossa relação com ela. “A literatura, como a gente conhece, não passa de uma grande pergunta. A pergunta feita pela literatura é uma pergunta relacional que não permite uma resposta. Mas, sim, respostas. Respostas que se desdobram em novas perguntas que se desdobram em novas respostas.” O Autor Homenageado Ailton Krenak, na plateia, pediu a fala para comentar sobre um dos últimos romances de Joca, “A morte e o meteoro”: “Esse romance é fantástico no retrato que faz da região de fronteira da Amazônia. O que você escreveu neste livro é a geopolítica mais provável de acontecer nos próximos anos”.

Terron direcionou uma pergunta para Trudruá acerca da língua portuguesa: “Me intriga muito a maneira pacata e pacífica como entendemos e aceitamos a língua portuguesa acriticamente. Você acha que a literatura indígena contemporânea deveria ser produzida nas línguas indígenas?” Trudruá respondeu: “Temos entendido como um gesto político publicar nossos livros na língua macuxi. Mas se eu publicasse só em macuxi eu não teria leitores”. A autora destacou o trabalho de publicação de edições bilíngues de trabalhos de autoria indígena. “Para que essa literatura chegue nas feiras literárias e nas escolas do Brasil, mas também nas escolas indígenas.”

Ainda interessado na questão da linguagem, Joca perguntou para Tom Farias sobre a influência dos idiomas africanos, como o Iorubá, em obras brasileiras, destacando o trabalho de poetas como Ricardo Aleixo e Edimilson de Almeida Pereira. “Citando Kalaf Epalanga, a língua portuguesa é cada vez menos uma língua européia. O Brasil é cada vez mais ocupado por mais pessoas negras”, declarou Tom. “Acho que esse País só vai dar o seu salto evolutivo quando assumir que todas as línguas indígenas e africanas faladas aqui também são línguas oficiais, assim como o português”, concluiu Joca Reiners Terron.

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu –  acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.