por Marcia Cruz
A Terra já vive a emergência climática. O termo emergência em vez de crise climática é mais adequado para descrever o aquecimento da temperatura do planeta, conforme defendeu Sérgio Abranches em um bate-papo com Myriam Scotti e Joana Silva no terceiro dia do 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu –, no Centro Histórico. A defesa da biodiversidade foi o tema que guiou a conversa.
Sérgio Abranches citou Ailton Krenak, Autor Homenageado do Fliparacatu, para definir diversidade: “Diversidade é a abelha, que tem mel e tem ferrão. Tem que aprender a lidar com ela”, disse. O planeta está em um estágio em que não se pode falar de mitigação de mudança climática. Os dados observados por cientistas demonstram que, em 2024, houve um aquecimento fora da curva, e eles analisaram se é um aumento pontual ou que persistirá. Outro dado preocupante é o aumento da temperatura média de todos os oceanos. “Passamos do ponto de não retorno, estamos vendo a Amazônia arder, São Paulo em chamas. Já estamos vivendo uma distopia”, avalia Abranches.
Myriam vive em Manaus, no Amazonas, região onde as queimadas estão proliferando de maneira absurda. Ela ressaltou que o Rio Negro está muito abaixo do que deveria, está em nível mais baixo do que em 2023 quando enfrentou a maior seca da história. “É um cenário distópico que se tornou próximo e real, não imaginava”, disse. Algo bem diferente de sua infância quando ela nadava em igarapés. Nesse cenário distópico, falar em diversidade é pensar quem são essas pessoas em sofrimento e completamente esquecidas.
Joana começou a desenvolver essa consciência ambiental há cerca de dez anos. A viagem de volta ao mundo que fez foi fundamental para essa mudança de mentalidade. “Em 2015, saí do Brasil, em um caminho diferente que era o ciclo da minha família. Fiquei dois anos no continente asiático”, recordou.
Joana estava em uma das regiões mais bonitas do planeta, mas se deparou com os efeitos da ação humana. Numa viagem de barco da Tailândia para a Malásia, o mar transparente estava tomado de sacolas de plástico, garrafas de refrigerante e outros resíduos. “O lixo que descartamos vai parar em algum lugar”, alertou. Joana defendeu que é necessária uma mudança de mentalidade.
Sérgio destacou que a literatura já alerta para essa emergência climática. Ele leu trecho do livro “Inocência”, de Visconde de Taunay, escrito em 1872. A literatura, como defende, pode ajudar nessa mudança de mentalidade. Myriam também leu trechos do livro “Banzeiro Okoto: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo”, de Eliane Brum. Myriam e Joana contaram que a mudança de mentalidade refletiu-se, inclusive, na forma como elas se apresentam ao mundo, na mudança de hábitos e de estilos.
Homenagem à Conceição Evaristo
Ao fim, o cônsul da França em Minas Gerais, Vincent Nedelec, concedeu à Conceição Evaristo o título Cavaleiro das Artes e Letras, uma condecoração cultural francesa que reconhece a contribuição de uma pessoa para as artes e as letras, ou a sua criação artística ou literária. A homenagem foi acompanhada pelos curadores do Fliparacatu, Afonso Borges, Sérgio Abranches e Tom Farias, e das escritoras Joana Silva e Myriam Scotti.
Sobre o Fliparacatu
O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.