Por Gabriel Pinheiro

A primeira mesa desta segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – recebeu os autores Taiane Santi Martins, Edney Silvestre e Jeferson Tenório. Edney abriu a conversa com uma pergunta tão simples quão profundamente complexa: “O que é felicidade pra você?”, direcionando-a para seus dois interlocutores. Jeferson comentou sobre qual seria o lugar da felicidade na literatura. “O lugar nas nossas literaturas”, ele destaca. Para ele, essa reflexão é um convite para pensarmos qual o nosso ideal de felicidade. Na sequência, Taiane falou sobre sua experiência na escrita do romance “Mikaia”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, escrito em Moçambique, e a memória de crianças moçambicanas expressando suas infâncias: “A maior expressão da felicidade que nós podemos encontrar é na infância”. Relembrando um trágico acontecimento quando criança, Edney Silvestre comentou que, para ele, naquele momento, a felicidade era ouvir o som da garotada brincando, enquanto ele convalescia em casa. “Para mim, é extremamente emocionante pensar em tudo o que eu atravessei.”

“A ideia da felicidade é algo que me incomoda há algum tempo. Pra mim, ela não é grandiosa. Ela é pequena. Penso nela como um instante. Prefiro a imagem da ‘alegria’, em vez da ‘felicidade’, por me parecer algo mais simples”, destacou Jeferson Tenório. “A alegria faz parte do processo na nossa vida.” Sobre a relação entre infância e felicidade, Tenório citou uma personagem de um de seus livros: “Eu não tive tempo para ter infância”. Jeferson debateu sobre a infância que é negada a crianças que se veem obrigadas a amadurecer antes da hora. Para Edney Silvestre, “talvez a pergunta deva ser feita no plural: ‘O que são as felicidades’?” Taiane comentou também sobre uma espécie de “terceirização” da felicidade, ou da alegria, pelo capitalismo. Do fato de, hoje, ela ser alcançada a partir de conquistas materiais. ”Isso diz da nossa própria sociedade, da ideia da felicidade como um ponto de chegada.”

O papo sobre a felicidade prosseguiu com Taiane questionando os colegas de mesa: “Como vocês lidam com a felicidade nos livros de vocês?” Jeferson respondeu lendo um longo trecho de um conto de sua autoria, “Ninguém pode ser tão feliz”. Já Edney comentou que escreveu um romance inteiro sobre a felicidade, “A felicidade é fácil”, livro que fala sobre a dor de não se alcançar uma felicidade ideal. “O livro olha para o ilusório da felicidade quando se pensa nela como grandiosa, mas as pequenas felicidades são possíveis.” Taiane falou sobre seu romance “Mikaia”, segundo ela, um livro profundamente triste, de temas delicados e difíceis, especialmente a violência contra a mulher. “As mulheres continuam vivendo, continuam se reconstruindo, continuam buscando a felicidade, apesar de tudo isso. O meu jeito de falar sobre a felicidade é o de reivindicá-la para nós mesmas e nos reinventarmos mesmo na angústia e na tristeza.” Ainda na relação entre literatura e felicidade, Jeferson Tenório comentou: “Uma vida sem a literatura é uma vida, de certo modo, triste. Uma vida com a literatura também é triste, mas temos maneiras de lidar melhor com isso”. O autor concluiu: “A literatura não traz felicidade, mas ela nos dá muitas possibilidades de vivermos vidas diferentes”.

Jeferson Tenório relembrou um crítico que escreveu sobre Franz Kafka, dizendo que o autor só escreveu uma obra tão potente por não ter tido uma vida feliz. Assim, Tenório provocou: “Vocês acham que uma vida feliz produz boa literatura?” Para Tenório, ninguém está interessado numa história que seja inteiramente feliz. “Não quero dizer que quem sofre escreva melhor, mas quem sabe olhar melhor para as suas dores, talvez consiga provocar no outro uma experiência daquilo o que viveu, transfigurando-a em literatura. A literatura não te oferece a felicidade, mas maneiras de lidar com nossas dores que talvez nos levem até a felicidade.

Sobre o Fliparacatu

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.

Serviço:

2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 28 de agosto a 1.º de setembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu
Entrada gratuita

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br
Jozane Faleiro  – 31 992046367/ Letícia Finamore – 31 982522002