Por Letícia Finamore
Antecedendo a palestra de Igiaba Scego, Geni Núñez e Jamil Chade, Jéferson Assumção, diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC) participou da segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu, o Fliparacatu. Confira, a seguir, sua fala na íntegra:
O Brasil tem cerca de 340 eventos literários grandes e médios acontecendo anualmente e um conjunto de festas literárias que, de fato, estão transformando a própria ideia de evento literário no Brasil. E Afonso Borges é um dos grandes responsáveis por isso. Eu queria, por favor, um aplauso aqui para o Afonso.
Todo mundo que o conhece sabe do esforço desse trabalho de articulação que ele faz. E é um trabalho de interiorização, um trabalho de levar os eventos literários para cidades históricas, essa relação entre a literatura e o patrimônio, a relação entre a literatura e a paisagem urbana, mas também o meio ambiente. Ou seja, a gente sair dos grandes centros urbanos e fazer esses eventos literários acontecerem em cidades tão lindas, esse centro histórico tão bonito, isso está acontecendo.
Não é só em Paracatu, isso está acontecendo: aconteceu em Araxá, em Petrópolis, em breve em Itabira. Há pouco tempo eu estava na Fligê, em Mucugê, que também é outro movimento de festas literárias que está acontecendo na Bahia. A Bahia acabou de fazer um edital para 81 festas literárias, R$300.000,00 para cada uma. Ou seja, está acontecendo, de fato, uma geração de eventos literários no País que são muito importantes para fazer com que a gente coloque o livro num lugar de destaque no imaginário coletivo. Sempre falo da importância disso.
Nós tivemos um Plano Nacional do Livro e Leitura em 2006, e agora estamos construindo o Plano Nacional do Livro e Leitura de 2025 a 2035. E, nesse Plano Nacional do Livro e Leitura, estamos conservando aquilo que consideramos os cinco princípios norteadores para que a gente se desenvolva como uma sociedade leitora. E o Afonso já me ouviu falar sobre isso e, para mim, esse tipo de evento é muito impactante e importante porque ele age nesses cinco elementos de uma sociedade leitora.
Toda sociedade leitora tem o livro num lugar de destaque no imaginário coletivo – a leitura ocupa um lugar de destaque no imaginário coletivo. Os meios de comunicação falam sobre livros. Os escritores têm espaço na sociedade. As bibliotecas têm valorização social. A valorização social do livro, da leitura e da literatura – isso faz parte desse imaginário de uma sociedade leitora.
O segundo elemento de toda sociedade leitora é uma coisa muito importante, que são escolas que sabem formar leitores. E os eventos literários, como as feiras de livros, por exemplo. Nesse ano, a Feira do Livro de Porto Alegre completa 70 anos, a mais antiga feira de livros do Brasil. Mas não apenas as feiras de livros, jornadas literárias, como a Jornada Literária do Distrito Federal, a Jornada de Passo Fundo, que fez esse trabalho durante muitos anos também, colocam uma coisa que é muito importante, que são escolas que saibam formar leitores.
Mas não é leitor para passar de ano, não é leitor funcional, não é o leitor que simplesmente tem uma relação instrumental com a leitura, e sim uma cultura da leitura. A leitura cultural é outra coisa: a leitura cultural é aquela que fica para o resto da vida. Infelizmente, quando a gente vai ver os dados de uma pesquisa como Retratos da Leitura no Brasil, a gente vê que o brasileiro, quando sai da escola, deixa de ler. Quando sai da universidade, deixa de ler. Ou seja, a gente não está formando uma cultura da leitura no ambiente escolar. E as festas literárias, os eventos literários, trazem as escolas, trazem os estudantes. A gente não conhece muito bem o que a jornada literária faz e o que esses eventos literários fazem ao trazer os estudantes para a praça, tendo essa relação com o livro, com a leitura, encontros com os escritores. A gente está formando essa ideia de uma escola que saiba formar leitores culturais.
O terceiro elemento é a família de leitores, ou seja, você ter o ambiente em casa, a exemplaridade do pai e da mãe lendo, a criança ter contato com o livro. Isso acontece também em eventos como esses, festas literárias, em feiras de livros, em que a gente vê as famílias, vê os pais e as mães. Muitas vezes, no caso do interior, dos inúmeros interiores do Brasil, em que a gente tem pouco acesso, inclusive, para enxergar o livro, livrarias que estão concentradas em poucos municípios do Brasil. São cerca de 600 municípios apenas, dos nossos 5.500 municípios, que têm livrarias. Mas quando a gente tem uma festa literária, um evento literário, a gente tem também a possibilidade da família se aproximar dos livros, porque está em uma praça como essa, e está ali de forma que a gente tenha também esse tipo de relação com o material de leitura, chegando até as crianças, vendo os pais, as mães, podendo, ali, manipular, chegar perto dos livros.
Falei de três elementos; os outros dois são elementos quantitativos, mas fundamentais, que, para nós, é um centro, um norte do nosso plano nacional do livro e leitura, que é a biblioteca. O Brasil é um país que precisa valorizar cada vez mais a biblioteca. Nós conseguimos, nos dois primeiros governos, Lula e até 2014, com a Dilma, zerar o número de municípios brasileiros sem bibliotecas. Infelizmente, com o governo passado e com a pandemia, a gente voltou a ter mil municípios brasileiros sem bibliotecas.
A gente voltou em 2005, 2004, e a gente precisa reabrir as bibliotecas no Brasil, porque esse é um elemento fundamental. A gente vai para a França ver o tanto de biblioteca que tem, vai na Colômbia ver o tanto de biblioteca que tem. O Brasil tem 5.300 bibliotecas públicas. A Rússia tem 45.000, um país que tem menos habitantes do que o Brasil. A gente precisa ter mais bibliotecas, porque a biblioteca é o lugar do acesso franco ao livro. Então, quanto mais bibliotecas a gente tiver, melhor.
Está aqui a Cecília Sá, a subsecretária de Espaço e Equipamentos Culturais do Ministério da Cultura, com o Ministério das Cidades. Cecília está à frente dessa ação, desenhou as bibliotecas do Minha Casa, Minha Vida. Então, agora, nós vamos ter todos os condomínios do Minha Casa, Minha Vida com uma biblioteca. Isso é fundamental para que a gente compreenda que a gente precisa ampliar o número de bibliotecas nesse País.
E não é só do ponto de vista quantitativo, mas também do ponto de vista qualitativo. A gente precisa entender a biblioteca como um centro cultural. Biblioteca não é apenas um lugar para pesquisa.
A rigor, existem dois tipos de biblioteca. Biblioteca anglo-saxã, que é a biblioteca de pesquisa, a biblioteca silenciosa, a biblioteca para estudo. Mas tem o modelo francês, que é o modelo de biblioteca centro-cultural, a biblioteca viva, a biblioteca que tem programação, a biblioteca que age na sociedade, age na comunidade.
A gente precisa ter uma ideia de biblioteca viva. Então, esse é um outro elemento fundamental que a gente tem de cada vez mais lutar como sociedade. Porque, se deixar, o prefeito fecha. Se não tiver pressão da sociedade, da comunidade, não há a reabertura da biblioteca, por exemplo.
Não adianta o Ministério da Cultura tentar, ter toda uma ação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, sem uma consciência e a valorização social da biblioteca, para que o prefeito abra a sua biblioteca e tenha ela como algo fundamental dentro da vida da cidade. E o quinto e último elemento é o preço do livro, algo fundamental em uma sociedade como a nossa, que a gente sabe que não é todo mundo que consegue comprar um livro.
Em geral, as feiras de livro, as festas literárias, são também lugares, momentos em que a gente tem essa possibilidade de comprar livros mais baratos, com descontos, há uma ação também econômica. Mas não é só do ponto de vista do desconto, mas sim da economia do livro. Porque quanto mais a gente faz circular o livro, mais valorização social do livro, da leitura e da literatura, mais temos também uma diminuição do preço. Porque, se tivermos poucos livros, temos menos condições, obviamente, de ter esse preço mais baixo. Então, os eventos literários são fundamentais para que a gente tenha esses cinco elementos de uma sociedade leitora desenvolvidos, que a gente precisa colocar o livro num lugar de destaque no imaginário coletivo, precisamos ter escolas que saibam formar leitores, precisamos ter a leitura nas famílias, precisamos ter bibliotecas e o acesso ao livro e precisamos ter o preço do livro cada vez mais acessível. Então, para nós, é sempre uma alegria o Ministério da Cultura estar junto. Nós acabamos de fazer um levantamento só de projetos na Lei Rouanet: são mais de cem milhões de reais em eventos literários, e na área do livro também, que é algo fundamental para que a gente compreenda esse mecanismo de isenção fiscal. A isenção fiscal não pode vir acompanhada da isenção política. A isenção fiscal não é apenas um benefício para a empresa, ela tem de vir acompanhada de algo que é uma mudança na sociedade, e isso não é só o Fliparacatu, mas os eventos que o Afonso Borges e toda a equipe fazem, que é fazer com que esse recurso, essa isenção fiscal, signifique mudança, transformação.
A Lei Rouanet é um instrumento que nós temos para transformar a vida cultural do País, e por isso eu parabenizo mais uma vez o Fliparacatu e o Afonso Borges. Viva o Fliparacatu e o Afonso Borges! Bora, vamos fazer mais um grande evento! Dia 30 de outubro tem Flitabira!
Claro que também agradecemos à Kinross, que é a patrocinadora desse projeto. Estamos aqui graças à vontade dessa empresa, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, mas não só ela. Também queria fazer um agradecimento especial às pessoas de Paracatu, principalmente à Mariana Leão, que deve estar escondida em algum lugarzinho aí. Ela é promotora de justiça dessa cidade, que, com a utilização das multas legais junto ao Ministério Público, transformou essa cidade, reformando igrejas, reformando logradouros e fazendo toda uma política de trabalho ambiental, entre outras coisas. Fica o meu agradecimento a essa cidade.
Sobre o Fliparacatu
O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.
Serviço:
2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 28 de agosto a 1.º de setembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
imprensa@fliparacatu.com.br
Jozane Faleiro – 31 992046367/ Letícia Finamore – 31 982522002