por Gabriel Pinheiro

O entardecer deste sábado de 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu recebeu uma mesa que lidou com uma palavra que norteia essa edição do evento: o amor. Subiram ao palco do Auditório Afonso Arinos o escritor italiano Roberto Parmeggiani e as escritoras Eliana Alves Cruz e Paula Gicovate.

Roberto comentou no início da mesa sobre a importância da audiodescrição, celebrando que ela seja feita no Fliparacatu, antes de todas as atividades. Segundo ele, a audiodescrição não é realizada em eventos de seu país natal, a Itália. “Mas pretendo levá-la para a Itália, é muito importante”. Eliana falou sobre o gesto da audiodescrição ser uma forma da gente dizer ao outro como nós nos enxergamos, ligando-o ao seu próprio projeto literário: “E esse é um gesto da minha literatura também. (…) Meu projeto literário traz uma grande interrogação: Afinal, quem somos nós?”

Na sequência, Paula declarou que seu projeto literário lida sobretudo com o amor. “Agora eu estou muito debruçada sobre a família. Sobre esse lugar que é pra ser a fonte de amor incondicional, mas, às vezes, não é”. A autora compartilhou com o público o sentimento de ter perdido a mãe e como essa perda e reinvenção da vida são parte da sua escrita atual. “A literatura me salva. De repente eu só tive a literatura pra dar conta do que eu estava vivendo. (…) A palavra e a literatura me salvaram como leitora também.”

Seguindo na discussão sobre o amor e a literatura, Roberto, que é pedagogo, declarou: “Meu trabalho de escrita é em volta do amor pelas palavras. Com as palavras nós realmente podemos criar as pessoas. É a palavra que fez criar a humanidade. As palavras permitem alguém nascer e permitem alguém morrer”. O escritor prosseguiu: “Não conseguindo usar as palavras em seu sentido verdadeiro, as usamos mais como algo para destruir do que para construir”.

Roberto comentou ter aprendido muito com o português brasileiro. “Eu digo que o italiano é minha língua mãe, mas o português brasileiro é minha língua pai. Quando chego no Brasil, é como se uma luz se acendesse e eu começasse falar o português. Talvez a língua portuguesa me permita entrar numa parte de mim que o italiano não permite”.

Eliana Alves Cruz compartilhou com o público o fato de ser dislexa. A autora falou sobre as inúmeras dificuldades na infância para o diagnóstico e tratamento. Eliana também destacou a importância de que portadores da dislexia saibam que, assim como ela, podem também trabalhar com a palavra, serem escritores. Roberto Parmeggiani comentou sobre seu livro infantil “O mundo de Arturo”, que tem como protagonista um garoto com dislexia que sonha em ser escritor.

A metamorfose da língua, do português brasileiro, em diferentes regiões do Brasil, e também do italiano, com diferentes dialetos no território do país europeu, rendeu um interessante diálogo entre Eliana e Roberto. Na sequência, Eliana comentou sobre a línguagem audiovisual. Sobre como essa é uma nova forma de contar uma história, a partir do material literário, por exemplo. Paula Gicovate trabalhou na adaptação de um livro seu, “Notas sobre a impermanência”, para o formato audiovisual e compartilhou com o público essa experiência. Eliana Alves Cruz também está trabalhando no roteiro da adaptação de seu livro “O crime do cais do Valongo”. Ambas as autoras compartilharam o desejo de que essas obras cheguem ao público, dizendo das dificuldades do trabalho audiovisual, que inclui o tempo – que pode ser muito longo – para que as adaptações, enfim, sejam lançadas.

Na conclusão, Roberto Parmeggiani compartilhou com os presentes uma lista de coisas que leva consigo dessa experiência na cidade de Paracatu. Entre as coisas, ele comentou “a entrega do Prêmio de Redação e Desenho, a confirmação de que a literatura é um feitiço que pode mudar a vida das pessoas e a certeza de que precisamos de muito mais Brasil no mundo – esse Brasil que estamos vendo aqui, que acredita no futuro”.

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu  – Fliparacatu –  aconteceu entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada foi gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.