Estar no Sertão de Minas para um evento de tanta pujança criativa é uma dádiva que se oferta pelo espírito transgressor de um incansável empreendedor cultural, a todos que amam e fazem a literatura. O Flipracatu é, de fato, transgressivo: desafia o cenário da aridez, abole distâncias e distanciamentos, promove a redescoberta do Brasil em pleno centro do território nacional, refundando coordenadas da identidade com grandes encontros permitidos pela arte.
Dos bandeirantes do século 16 e da descoberta oficial, no século 18, das minas e do vale que dão nome à cidade, às bandeiras da contemporaneidade, Paracatu volta a ser horizonte de descobrimentos da brasilidade. No cruzamento das artes com a ancestralidade, de onde brotam necessários debates e promissoras perspectivas. Como não é incomum na paisagem mineira, a história e o futuro se afirmam no presente, em que as origens e os destinos se entrelaçam no que se conta, no que se faz e no que se cria.
Os minerais que vêm do solo se misturam aos ares literários em dias de ebulição do pensamento e do aflorar da sensibilidade. O Fliparacatu é recebido pela gente hospitaleira de Minas como nova pedra preciosa para lapidação de um país, que se forma e se fortalece na escrita, para se ver nas histórias que são ditas e lidas. E o país que se lê em Paracatu é diverso, exuberante, honesto e vibrante como uma biblioteca de acervo em permanente renovação.
Aproveito para recordar uma das mesas em que tive a honra de participar no evento, com Paloma Jorge Amado e Nádia Gotlib, sobre memórias da literatura brasileira. Literatura é memória: os livros trazem notícias, espantos e perspectivas de outros tempos, que também compõem o nosso tempo. As palavras escritas no passado estão na memória coletiva e nos fazem mais conscientes da história em que somos lançados. E a memória é literatura: o que as palavras podem contar são testemunhos transmitidos pela oralidade ou pelo papel impresso. Uma lembrança puxa a outra como uma história puxa outra, no encadeamento encantado das palavras.
Estar em Paracatu é visitar o tempo de um Brasil de riquezas em plena restauração. O tempo de agora, sob o vento dos ancestrais, na mira do amanhã, se projeta em cada palavra e em cada livro aberto para leitura, reflexão e inspiração.
Rogério Robalinho é coordenador da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.
O Festival Literário Internacional de Paracatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Paracatu, da Paróquia de Santo Antônio e do Projeto Portinari. Com a curadoria de Tom Farias, Sérgio Abranches e Afonso Borges, acontece entre os dias 23 e 27 de agosto de 2023, no Centro Histórico da cidade.
Serviço:
Festival Literário de Paracatu – Fliparacatu
De 23 a 27 de agosto, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu
Entrada gratuita
Informações para a imprensa:
Jozane Faleiro – 31 992046367/ Letícia Finamore – 31 982522002