Por Marcia Cruz
Itamar Vieira Junior encontrou-se com a criançada, na manhã desta quinta-feira (29), na Casa Kinross, para um bate-papo sobre o seu primeiro livro destinado às infâncias em todas as idades, “Chupim”. A escritora Alessandra Roscoe iniciou a conversa destacando a importância de escrever para as crianças, a partir dos temas, das linguagens e dos interesses delas, e que também há diferentes infâncias vivendo no campo, nas áreas urbanas e até mesmo em uma mesma cidade. “Chupim” foi escrito para as pessoas de várias idades, entendendo que todos ainda guardam a criança que foram várias infâncias.
Em “Chupim”, Itamar narra a descoberta feita pelo pequeno Julim ao encontrar o Chupim, um pássaro preto que vive em plantações de arroz e que, muitas vezes, é mal visto e combatido como se fosse uma praga. Depois do sucesso de “Torto arado”, “Salvar o fogo” e “Doramar ou Odisseia”, Itamar realizou um desejo antigo de escrever um livro para crianças. Mesmo para ele, autor de best seller, a tarefa foi um desafio, como confessou ao público.
O interesse por Chupim vem de histórias que ouve desde a infância. “Sempre tive um olhar sensível para os animais, a natureza e para as pessoas que estavam à minha volta. A ideia veio há muito tempo”, revelou. A história do pássaro foi abordada em “Torto arado” pela personagem Bibiana. E Itamar quis contar também pelo olhar de uma criança, “um olhar puro, ingênuo e de afeto para o mundo”. “Queria escrever uma história para reabilitar o pássaro e dar uma chance a ele”, relatou.
Itamar também contou como foi o processo de criação do livro. Ele participou de todo o processo, da definição das imagens que contam a história ao papel e tamanho do livro. As imagens são pinturas feitas com a técnica de óleo sobre tela pela artista plástica Manuela Navas.
No livro para as infâncias assim como nas obras para adultos, a relação das pessoas com a terra também é ponto de interesse do escritor. A vida de Chupim pode ser entendida como uma metáfora da vida dos trabalhadores rurais que trabalham nas lavouras de arroz. “A vida dessas pessoas que são tratadas como pragas, indesejáveis. Acaba a colheita, são convidados a sair. Não têm terra, não têm casa”, afirmou.
O livro também é uma forma de despertar a atenção de quem vive nas cidades para o trabalho feito no campo. “O arroz que a gente come na cidade, passa pelas mãos desses trabalhadores”, disse. Ao fim, Itamar interagiu com o público, que perguntou se ele escreverá outro livro infantil, qual o livro preferido do autor, qual a personagem que mais o emocionou.
Os leitores também perguntaram sobre como a literatura de Itamar dá visibilidade a grupos e pessoas que são tornadas invisíveis na sociedade capitalista. “A gente escreve com o corpo todo. Para história acontecer, precisa passar pelo seu corpo. No momento que escrevo sinto revolta e raiva”, revelou Itamar.
E completou: “Tento contar histórias com muita honestidade, escrevo com a mente e com o coração, com o corpo inteiro”. Para finalizar, Itamar respondeu como a sua formação como geógrafo influencia a sua escrita. A atuação como geógrafo parte de um entendimento que a terra não é um cenário, “A terra está viva, as coisas estão acontecendo. Terra viva que aparece nas histórias”.
O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.