por Marcia Cruz

Tom Farias, Guilherme Amado e Estêvão Ribeiro abordaram a escrita de biografias, no quarto dia do Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu, no Centro Histórico. Os autores compartilharam como fazem para organizar pesquisas tão extensas, com um volume grande de informações e em profundidade. 

Autor de “Cruz e Sousa: Dante negro do Brasil”, “José do Patrocínio: a pena da abolição” e “Carolina: uma biografia”, Tom mescla o levantamento biográfico, documental, entrevistas, fotos para compor a obra. “Gosto de contar as entrelinhas da história.” Tom, no entanto, faz uma ressalva: não basta uma imersão em dezenas de livros, é preciso ir além, ter um contato com a vida do biografado.

“É preciso estar muito próximo da personagem sobre a qual se quer escrever.” Tom leu 2 mil páginas manuscritas, leu os livros, ouviu os discos gravados por ela, 26 entrevistas com a filha de Carolina, Vera Eunice, uma entrevista com o filho, José Carlos, seis entrevistas com Audálio Dantas. Tom ainda leu 1.100 matérias de jornais, publicadas no Brasil e em mais 40 países.

Não é uma tarefa fácil escrever sobre um fenômeno editorial mundial, como Carolina que vendeu mais de 6 milhões de livros. “Não há autora contemporânea que tenha alcançado patamar como Carolina alcançou. Foi lida pelo Papa e John Kennedy, há registros dele lendo ‘O quarto de despejo’”. O biógrafo precisa se aproximar ao máximo da personagem, como ela é, mas Tom lembra que, por mais que se faça um bom trabalho, “a biografia sempre será uma versão da personagem”.  

Ainda viajou três vezes para Sacramento, a cidade natal de Carolina. “Faço uma imersão como se eu vivesse com eles, que me dão dicas do que elaborar.” Tom compartilhou alguns achados: ele descobriu que algumas patroas a tratavam melhor do que outras, então ele foi pesquisar essas mulheres e descobriu que as com quem Carolina tinha uma melhor relação de trabalho estavam engajadas em processos políticos para a emancipação da mulher. Em relação ao outro biografado, José do Patrocínio, Tom passou 40 dias na cidade em que ele nasceu.

Também foram muitos os achados sobre Cruz e Souza. “Todo mundo contava a mesma história. 20 livros, a mesma história, você fica em dúvida.” O biógrafo localizou um documento na antiga Cidade de Desterro, atual Florianópolis, que detalhava tudo o que o pai fez por ele. Documento revelou cuidado de uma família, oriunda da escravidão. “Esse documento abriu um clarão enorme de percepção de como se organizavam as famílias negras, mesmo período de escravidão. O foco sempre foi a educação”, contou.

Estêvão contou um pouco do processo de pesquisa para o livro “Gênios da gente”, que reúne o perfil biográfico de 30 personalidades negras. “O processo maior foi representar essas pessoas.” Ele trabalhou com imagens clássicas e com uma imagem imaginando a personalidade quando ele era criança. ”Ele contou descobertas sobre Aída dos Santos, atleta negra que disputou as Olimpíadas sem sequer ter uniformes.

Guilherme falou do processo de escrita da biografia de Gal Costa, prevista para ser lançada em 2027. “A possibilidade de fazer a biografia da Gal apareceu na minha frente como um espírito, uma intuição. Sou muito ligado em sinais. Depois que a primeira pessoa me provocou, levei três meses para decidir”, disse.

Sobre o Fliparacatu

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu  – Fliparacatu –  acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.