Por Letícia Finamore

Na palestra realizada durante o início da noite do sábado, 31 de agosto de 2024, os escritores Joca Reiners Terron, Jeferson Tenório e Eliane Marques reuniram-se em uma mesa de debates que apresentou questões referentes aos diferentes tipos de literatura que existiram e existem. 

Joca Reiners Terron deu início ao encontro falando sobre a evolução da literatura brasileira desde os anos 1990, destacando a escassez de editoras independentes naquela época e a predominância das grandes companhias, que publicavam poucos autores brasileiros. Segundo ele, a abertura política após o fim da ditadura, em 1985, refletiu na indústria editorial – juntamente a diferentes formas de expressão artística, como música, cinema, teatro e o advento da internet (muito diferente da internet conhecida nos dias atuais), o cenário começou a mudar, resultando em uma crescente presença de autores brasileiros lidos no País.

Em seguida, Eliane Marques trouxe à discussão a necessidade de fragmentar o termo “literatura” para reconhecer as múltiplas vertentes que hoje a compõem. Ela ressaltou que a literatura, historicamente dominada por uma perspectiva branca e masculina, expandiu-se para incluir literaturas indígenas, negras, afro-brasileiras, afro-diaspóricas, e LGBTQIAPN+. Eliane mencionou a importância de reconhecer a oralidade, ou “oralitura”, como uma parte vital da tradição literária, destacando que a literatura escrita não é o único meio de expressão artística.

De certa forma, a discussão sobre identidade foi central na palestra. Eliane, Jeferson e Joca abordaram como a acusação de que a literatura contemporânea é “identitária” surge do preconceito de que apenas os autores não brancos têm identidade, enquanto autores brancos são vistos como universais. Jeferson Tenório destacou que essa perspectiva ignora a complexidade e a riqueza das experiências e histórias trazidas por autores de diferentes origens. Ele também comentou sobre o impacto das ações afirmativas, como as políticas de cotas, que ajudaram a abrir espaço para vozes antes marginalizadas no cenário literário.

Quando Joca iniciou uma de suas falas, explicitou que as distopias são etiquetas comerciais muito utilizadas nos dias atuais, não deixando de lado uma conotação facista – uma vez que “parece mais um sintoma da nossa imaginação de imaginar novas saídas, novas possibilidades”. Dessa forma, o escritor conclui que não se vê como um escritor distópico, mas sim pessimista utópico. A distopia parece um sintoma de que se vive um período em que não se consegue mais imaginar possibilidades de futuro e reinventar essas ideias. Indo além, Joca reafirmou sua fala ao dizer que, além do momento futuro, está a realidade, de forma que a utopia coletiva está localizada no passado. É preciso, assim, de alguma maneira, recuperá-la e pensá-la integralmente.

Eliane Marques concordou com Joca, mas apresentou um contraponto: se um mundo termina, há a possibilidade de outros mundos. Das negatividades nascem outras possibilidades e, talvez, a partir disso, seja possível escrever novos mundos e novas histórias. A escritora, que também é psicanalista, usa este parâmetro para dizer que os universos só podem ser criados a partir de uma criação linguística – fora isso, não há mundo.

Sobre o Fliparacatu

O 2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu – acontece entre os dias 28 de agosto e 1.º de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade”. A entrada é gratuita para todas as atividades. O Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.

Serviço:

2.º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu
De 28 de agosto a 1.º de setembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu
Entrada gratuita

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br