A educadora e escritora belo-horizontina Luana Tolentino abraça leitora durante sessão de autógrafos na Fliparacatu (Foto: Ranch Films)

Reunindo nomes de peso da literatura lusófona, além de uma série de outras atividades culturais, incluindo espetáculos de dança, atrações infantis e apresentações musicais, o primeiro Festival Literário Internacional de Paracatu, o Fliparacatu, chega ao último dos cinco dias de evento em clima de celebração, não só pelos encontros que proporcionou, mas também pela vibrante adesão da comunidade, que lotou auditórios e, claro, tietou autores de renome.

“Fazer um balanço do Fliparacatu assim, a quente, é muito difícil. O Festival acabou de terminar e o impacto foi muito grande”, avalia Afonso Borges, um dos organizadores e curadores do evento. Ele prossegue argumentando que a cidade tem 600 imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – “é um presépio do século 19” –, reunindo, em seu Centro Histórico, totais condições para receber grandes eventos culturais.

O produtor também comemora que a Fliparacatu tenha levado ao município, localizado na Região Noroeste de Minas Gerais, “os mais interessantes escritores negros e brancos para falar sobre ancestralidade, sobre arte, com o projeto Portinari, e, mais que isso, falar sobre o que o Brasil precisa enfrentar daqui para frente: a questão do racismo”.

“O racismo tem de ser enfrentado e vencido. E toda a tônica desse Festival, dessas diversas palestras que foram realizadas, expressaram esse sentimento”, pontua, acrescentando que este é o papel de um festival literário: fazer com que as questões de um país sejam colocadas. “E elas são colocadas nas obras desses escritores que estiveram presentes aqui: Itamar Vieira Junior, Jefferson Tenório, Lívia Sant’Anna Vaz, Eliana Alves Cruz, Tom Farias, Cesar Abrantes, Miriam Leitão, Matheus Leitão… Um grupo de escritores que está fazendo a reflexão que o Brasil precisa fazer nesse momento, principalmente depois desses quatro terríveis anos que passamos. É um novo Brasil, mas também são novas reflexões colocadas sobre pontos antigos, sobre pontos até certo ponto ancestrais”, examina.

Ao fim do evento, Afonso Borges garante que ele, os autores convidados e a comunidade local já nutrem expectativa pelo próximo Fliparacatu – “porque nesse, que foi o primeiro, deu tudo certo”.

Movimento

Um dos sinais de sucesso da empreitada foi o contínuo movimento no amplo stand montado para abrigar uma livraria, considerada o coração do evento, que foi montada nas adjacências da igreja de Nossa Senhora do Rosário. No lugar, desde o primeiro dia do evento, que começou na quarta-feira (23), houve um grande vai-vem de pessoas interessadas em folhear e comprar títulos – movimento que se estendeu até este domingo (27).

Por lá, Nathiele Macedo, 25, percorria os corredores atrás de uma publicação que lhe tocasse. “Não decidi ainda porque são muitas opções. A livraria está bem diversificada. Mas, assim, como eu estudo sobre questões raciais, este vai ser um norte para eu escolher”, disse à reportagem na sexta-feira (25).

Outro critério para fazer suas escolhas, garantiu, é a possibilidade de sair com um livro que possa ser autografado por seu autor. “É uma estratégia. De alguns eu já consegui assinaturas, agora a intenção é comprar de outros que estarão aqui para receber mais autógrafos e conversar um pouquinho com eles”, comenta.

Estratégia semelhante adotou a secundarista Maria Luiza, 18, que comprou o livro “Insubmissas lágrimas de mulheres”, da escritora Conceição Evaristo. Ela conta que a cidade não possui livrarias, de forma que o stand se tornou, mais que uma atração, uma oportunidade para um contato mais direto com as publicações literárias.

Presente em uma das mesas de bate-papo que contou com a presença da autora, ela ansiava por conseguir um autógrafo ao fim da atração que lotou o Centro Pastoral São Benedito.

Essa busca por autógrafos era tamanha, que alguns escritores chegavam a dedicar mais tempo a esses momentos de interação do que às mesas de bate-papo que participaram. A educadora e escritora Luana Tolentino, autora de “Sobrevivendo ao racismo”, em uma conversa informal com a reportagem, comentou que a satisfação em atender o público era tamanha  que ela não sentiu nenhum cansaço durante as horas que passou escrevendo dedicatórias. A exaustão só foi aparecer após a última assinatura, garantiu.

Encerramento

Entre os destaques do último dia do Fliparacatu estão as três mesas que abordaram temas como jornalismo, liberdade de expressão e meio ambiente. Os jornalistas Matheus Leitão e Afonso Borges conversaram sobre o uso da primeira pessoa como forma literária; Jamil Chade e Míriam Leitão discutiram os desafios da democracia diante das ameaças à liberdade de expressão; e o escritor moçambicano Mia Couto e o cientista político Sérgio Abranches refletiram sobre a relação entre a natureza e a cultura. Todos eles participaram de sessões de autógrafos após as palestras, em que interagiram com o público e autografaram seus livros.

Outro momento marcante do último dia foi a final da batalha de slam – modalidade de poesia falada, que mistura literatura, música e performance –, que contou com a participação dos integrantes do Slam Galeria de Paracatu.

O Festival Literário Internacional de Paracatu foi patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e teve o apoio da Prefeitura Municipal de Paracatu, da Paróquia de Santo Antônio e do Projeto Portinari.

*O repórter viajou a convite da Kinross, patrocinadora do Fliparacatu por meio da Lei Rouanet do Ministério da Cultura.

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