O segundo dia do Fliparacatu teve início nesta quinta-feira (24/8), às 10h, e terminou às 22h15. Sob um calor de 34°C, a programação contou com as presenças de José-Manuel Diogo, Jamil Chade, Silvana Gontijo, Sérgio Abranches, Taiasmin Ohnmatch, Calila das Mêrces, Luíza Romão, Marco Aurélio, Paloma Jorge Amado, Nádia Gotlib, Cármen Lúcia, Miriam Leitão, Tom Farias e Socorro Acioli. Ao fim de cada programa, os autores se encaminharam às sessões de autógrafos.
Entre uma das mesas mais aguardadas da noite, estava a da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e da jornalista e escritora Míriam Leitão. A fila era grande na entrada do Centro Pastoral São Benedito antes mesmo de finalizar a mesa anterior. “A palavra é o instrumento. A mesma palavra que pode ser declarada por amor pode declarar guerra. O uso da palavra não é vão, não é neutro e desde sempre nos formamos pela palavra”, disse a ministra, ao interpretar o tema de discussão intitulado Literatura, a libertação.
“Com 19 anos fui presa e foi muito difícil porque não podia ler nenhum tipo de livro. Eu fechava os olhos e lembrava dos livros que tinha lido”, contou Míriam Leitão, ao falar sobre a importância da leitura em sua vida. “Naquele momento, fui livre dentro da prisão.” Ao abordar o racismo, a jornalista afirmou que não existe espaço para discriminação. “O Brasil se apequena quando discrimina”, disse. Uma das primeiras pessoas públicas a declararem apoio às cotas raciais, Míriam reflete sobre o poder das políticas públicas no País e como são necessárias. A autora finalizou afirmando que “o país somente será grande, forte e poderoso se fizermos os caminhos que eliminem a desigualdade do nosso Brasil”.
A ministra Cármem Lúcia acrescentou:”Racismo é crime, porque atinge a dignidade do ser humano”. A ministra pontua que o País é preconceituoso e é algo a se combater. “Hoje um empresário foi trabalhar de carro porque ele pode. No mesmo dia, uma mulher irá andar um dia inteiro para pegar um ônibus e caminhar ainda mais até chegar a um posto de saúde” exemplifica, Cármen Lúcia, sobre as desigualdades dentro do Brasil.
A ministra citou a marchinha O teu cabelo não nega como um exemplo de preconceito velado sobre o qual pouco se reflete e cujas canções têm o poder de perpetuar os preconceitos. Após as discussões, Conceição
Evaristo, que estava na plateia, foi convocada para dizer algumas palavras. “Essa questão [do racismo] não só é nossa, não somos nós negros que vamos resolver as questões raciais no Brasil. Não nos coloque essa responsabilidade. Fico grata por ser chamada para um evento de literatura, mas não é um favor. Ele está simplesmente nos ajudando a ocupar um espaço que foi e é nosso”, disse a linguista.
O Festival é realizado graças ao patrocínio da Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Paracatu, da Paróquia de Santo Antônio e do Projeto Portinari.